domingo, 24 de julho de 2016

O fim

Querido Felipe,

Hoje você terminou comigo. Faltando sete dias para que a gente completasse exatos seis meses de namoro, você decidiu pôr um ponto final nesse relacionamento que pra mim foi uma das melhores coisas que poderia ter acontecido comigo, se não a melhor.

Não vou te tirar a razão. Seus argumentos foram bem válidos, na verdade. Você será um ótimo advogado, não tenho dúvidas. Eu realmente sou egocêntrica.  Ouvi pessoas que náo devia ouvir e fiz coisas que náo deveria ter feito. Várias e várias vezes nesses quase seis meses eu dramatizei e me fiz de vítima. Não soube dosar as coisas, corria atrás de você quando devia te deixar ir e te deixava ir nos momentos em que devia lutar por você. E não se engane, a minha vontade hoje era de mais uma vez, lutar por você, sair da minha casa e ir voando para o seu quartel e te falar que você estava errado em terminar comigo. Mas não o fiz, por um motivo bem simples. Da última vez que nós quase terminamos, eu te pedi uma chance. Uma nova oportunidade para mudar tudo e abrir um espaço maior para você na minha vida, de certa forma, lutando para que meus pais te aceitassem e tudo se encaixasse. Mas eu falhei, não foi? Eu não soube aproveitar essa chance, por mais que os meus sentimentos sejam tão imensos e fortes por você. Eu aprendi que quando a gente falha, ou quando a gente erra, tem que pagar pelos erros. Ser punida. E a maior punição que você poderia me dar é a sua ausência na minha vida.

Eu queria muito ter sido aquela namorada que coloca mil fotos junto com o namorado nas redes sociais. Queria ter colocado que estava em um relacionamento sério com você, queria ter te levado na casa do meu avô, te mostrado pra minha família inteira e pra todos os meus amigos, mas eu não fiz nada disso. Já disse, eu não fiz essas coisas para te proteger, mas pode ter certeza que vontade não faltou. Eu me orgulho tanto de você! Da pessoa maravilhosa que você é, com um coração imenso, que cabe o mundo. Me orgulho da sua história, de como você saiu de longe e foi crescendo na sua carreira (e como vai continuar crescendo, tenho certeza).

Sabe, não posso ser hipócrita e dizer que eu mesma não cogitei terminar com você durante esse período. Algumas vezes, admito que as pessoas ao meu redor e algumas atitudes suas me fizeram pensar se você realmente seria "o cara" pra mim. Na época do seu aniversário, quando as coisas estavam realmente ruins entre a gente, eu cogitei abandonar o barco... Ou então quando você fazia um monte de grosserias comigo, pelo telefone ou pessoalmente, eu pensava "Gente, o que eu tô fazendo com esse cara!". Mas todas as vezes eu parava pra pensar e chegava à conclusão de que valia a pena continuar tentando. Você realmente é um investimento, mas não pelos motivos que o seu amigo te falou. Você é um homem de verdade. Tem caráter, boa índole, é batalhador. Você foi sincero comigo desde o início, foi meu ombro amigo quando eu precisei, meu parceiro de verdade. Mas como eu dizia, teve somente um momento que eu tava 99% decidida a terminar com você: No dia após a festa da Dnair. Não sei se você vai lembrar desse dia, eu passei o Sábado inteiro longe do whatsapp e quando você me perguntava o motivo, eu dizia que estava "em crise" e não queria falar o motivo. Inclusive, em um determinado momento, você disse que ficava triste que eu não confiasse em você para dizer o motivo, mas não era falta de confiança. Mas agora eu não tenho mais porque esconder. No dia do aniversário dela, houve um momento em que você segurou a bebê da Ana Paula enquanto eu fui ver os convidados dançando. Nenhum problema com relação a isso, mas quando eu voltei para o seu lado, você estava olhando para a criança como se ela fosse sua. E naquele momento, eu pude ver no seu olhar como aquilo era importante pra você, ter um filho. Você já tinha me falado isso várias vezes, mas quando a gente vê, cara a cara a situação, a gente percebe como as coisas realmente são. Você nasceu pra ser pai, amor. É daquelas coisas de vocação... Você deseja isso lá do fundo do seu ser, talvez até mais que ser oficial. E eu não consigo me imaginar sendo mãe. Nem hoje e nem daqui há vinte anos. Nesse dia em que eu fiquei sumida, eu chorei muito, por isso a minha cara estava tão inchada quando nos encontramos. Minha mãe entrou no quarto e me perguntou o que houve, e tudo o que eu conseguia dizer era "eu tenho que terminar com ele". Expus os motivos e ela mandou eu deixar de ser idiota, porque não eram bons motivos. Pois é, ela não me deixou desistir de você. Na verdade, eu nunca realmente quis desistir de você, mas é muito ruim quando você descobre que não vai ser capaz de fazer alguém feliz, principalmente quando esse alguém merece.

Você teve seus defeitos também, não vou falar que você foi perfeito. A sua teimosia era irritante. Você diz que eu era egocêntrica, mas você também foi várias vezes. Mais do que isso, você era orgulhoso. Parecia que estava em uma competição particular comigo, querendo mostrar independência, mostrar que era o mais forte da relação e que não precisava de mim pra nada. Muitas vezes eu me sentia em segundo plano pra você, principalmente quando o assunto envolvia as suas amigas, as suas ex, as alianças que você insistia em guardar... Eu me sentia uma idiota quando isso acontecia. Como se eu tivesse esperando o momento em que você ia ter um estalo e me deixar pra ficar com a dona da aliança ou ter o tal filho fora do casamento porque "pretendente não faltava". Eu me senti inferior muitas vezes. Mas ainda assim, suas qualidades eram muito maiores que tudo isso e eu sempre "fechava o olho" pra esses defeitos e tentava enxergar somente as suas qualidades.

Enfim, o que eu tenho pra te dizer é bem simples. Você vai realizar seus sonhos. Você vai sim terminar essa faculdade, ainda que muitas vezes você cogite largar tudo. Vai passar na prova de oficiais e ser um líder e um exemplo pra muita gente. Aquela mulher que a sua mãe pediu pra Deus que aparecesse na sua vida vai aparecer, vocês vão se casar e você vai realizar seu sonho de ter uma casa com aquela cozinha maravilhosa, um cachorro e um ou vários filhos. Deus sabe como eu queria ser essa mulher, mas você não me escolheu. E eu jamais poderia te dar um filho, você sabe disso. Confesso que sonhei algumas vezes em te ver com aquela farda azul linda me esperando no final do corredor da igreja, a gente se casando e sendo felizes pra sempre, mas não deu.

Desculpe por todas as vezes que eu fui chata, ciumenta, "filhinha de papai" e esnobe. Desculpe pelos momentos em que eu não te fiz feliz, não cuidei de você ou não soube te compreender. Desculpe se em algum momento eu fui preconceituosa com relação ao lugar de onde você veio, em relação à sua carreira ou às coisas que você almeja. Desculpe por todas as vezes que eu te magoei, por todas as brigas, chiliques sem motivo ou pelas vezes que eu ousei duvidar de você ou das suas intenções com relação à mim ou ao seu passado.

Obrigada por tudo, do fundo do meu coração. Obrigada por ter me feito crescer um pouquinho. Por ter me feito sair do fundo do poço que eu estava quando você me conheceu e por ter acreditado em mim quando eu dizia que aquele cara do passado realmente tinha ficado no passado. Obrigada por ter me levado pra sair, pra conhecer lugares que eu sempre quis, mas nunca pude ir ou nunca tive coragem de ir. Obrigada pela companhia sempre gostosa, pelas dancinhas dentro do carro quando tocavam as músicas que a gente gostava e por todas as vezes que me mandou áudio cantando "eu sou uma cobra venenosa" e quase me matou de rir. Aliás, obrigada por me fazer rir constantemente e viver numa alegria que eu nunca imaginei ser possível viver. Obrigada por ter me levado de volta pra Igreja. Obrigada pela paciência com as minhas maluquices e com a minha família. Obrigada pelos almoços deliciosos, pelos jantares no plantão, por aqueles bolos de coco do sargento. Obrigada pela companhia na academia, por ter feito eu procurar o cara certo pra me treinar e por me incentivar sempre. Obrigada por todas as vezes que nós fomos para a sua casa, por todos os beijos e carinhos que só aquelas paredes testemunharam e que ficarão registrados na minha mente pra sempre, assim como os do carro. Obrigada por dizer que eu sou linda e por gostar de cada milímetro do meu corpo, exceto os pés porque eles são esquisitos, né?

Obrigada por aquela ligação no reveillón que quase me fez chorar, dizendo que estaria ao meu lado em todo o ano de 2016 e me ajudaria a passar na prova do corpo. Pelo visto, eu não vou ser a única a não cumprir uma promessa, né?

Eu li uma vez que durante a nossa existência, existe o amor da nossa vida e o homem da nossa vida. O amor é um cara platônico, que a gente acredita que é a última cereja do bolo e é completamente cega, achando que aquilo ali é a perfeição em forma de gente. E o homem da nossa vida é o cara que te ama - e que você ama também. Que te elogia, que cuida de você e que você, ainda que o ame desesperadamente, consegue enxergar todos os defeitos e ainda assim continuar lhe amando. Eu acho que você foi o homem da minha vida. Pena que eu não pude ser a mulher da sua.

Me que vai estudar, que vai se cuidar... Que não vai se enfiar em roubada e que não vai comprar uma moto. Que vai realizar os seus sonhos e, principalmente, me promete que vai ser feliz demais.