segunda-feira, 25 de julho de 2016

Planos e sonhos que eu tinha com você

- Ver você se formando na faculdade
- Ir na sua formatura de oficial
- Viajar:
  * Pra Bahia, pra conhecer a sua família
  * Te levar comigo no congresso de BH em Novembro
  * Te levar comigo pra Itália nas minhas férias de Setembro
  * Conhecer todos os lugares que você quisesse, porque estar ao seu lado faz até o pior dos lugares ficar divertido
  * Conhecer Londres

- Cozinhar a sua comida preferida
- Te apresentar à banda boa da minha família, à minha madrinha e aos meus amigos
- Dividir um apartamento com você na Zona Sul, pra você poder falar que está vivendo no Rio de Janeiro de verdade
- Turistar pela cidade, em todos os lugares que você dizia que ia me levar
- Conhecer a sua amada Manaus, comer o tal peixe que você tanto fala e provar o "açaí verdadeiro"
- Conhecer os seus amigos da faculdade, de preferência no dia que vocês comemoram o final do período na pizzaria
- Te acompanhar quando você for comprar as roupas "chiques" que um advogado tem que usar a partir do sétimo período da faculdade
- Te convencer a desistir da moto de vez
- Passar uma noite (na verdade, todas elas) ao seu lado, sentindo o teu peito quentinho em mim e acordar com você com aquela "voz de Darth Vader" que eu tanto amo
- Te ver comandando uma tropa, ou fazendo qualquer coisa que envolva dar uma ordem unida
- Te levar pra almoçar no meu restaurante preferido
- Ir nos shows das nossas bandas preferidas, principalmente as nacionais (porque você gosta mais das nacionais, não é?)
- Andar naquele carro que eu acho horroroso de grande, mas que é o seu sonho de consumo
- Ir com você ao hospital pra fazer a minha inspeção de saúde admissional no Corpo e, depois que eu fosse aprovada, te ver na arquibancada, torcendo por mim na prova da corrida (e comemorando junto comigo quando eu fosse aprovada)
- Te ver livre de todas as pendências financeiras que você tem, pra que você consiga juntar dinheiro e realizar os seus sonhos, sem ter preocupações na cabeça
- Poder te beijar todos os dias quando eu acordar e quando eu for dormir
- Fazer você e os meus pais serem amigos de verdade
- Ter um apartamento grande (ou uma casa, sei lá) e um cachorro pra gente cuidar
- Casar com você e viver feliz pra sempre com você

Nossos melhores momentos e coisas pelas quais eu sou grata

- Os momentos que passamos juntos na nossa "sala secreta"
- A conversa no escuro no corredor do cafofo do guerreiro
- O bolo de coco do Ano Novo
- As "rondas" que vc fazia na Ortopedia
- Os nossos altos papos pelos corredores do hospital
- O nosso quase primeiro beijo no hospital
- O nosso primeiro beijo no cinema do shopping
- Andar de mãos dadas com você em qualquer lugar da cidade
- Os jantares do plantão
- Os almoços, fossem no shopping ou na sua casa
- As nossas mil conversas e áudios pelo whatsapp
- As 20 ligações por dia
- As vezes que namorávamos no seu carro ou no meu carro
- O show da Lapa, dançando agarradinha com você e com a gente saindo correndo na chuva na hora de ir embora
- O dia em que você me levou no Mirante, lá no Flamengo
- O dia em que fomos no Parque das Ruínas, no Parque Lage e no Botafogo Praia Shopping comemorar o dia dos namorados
- Sua festa de aniversário
- Suas formaturas após o término do curso e pra ganhar a medalha
- O dia que você passou do segundo pro terceiro período
- O primeiro abraço que a gente deu
- O show da Radio Cidade, e depois dormir no seu carro
- O dia que você apareceu de surpresa no aniversário da Paty
- Todas as vezes que você foi correr comigo pra "me dar uma moral"
- A primeira missa que nós fomos juntos e o que você me falou no final dela
- O almoço da igreja em que você "me pediu em casamento"
- Nossos namoros no seu apartamento
- Os passeios na feira dos paraíbas
- Todas as vezes que eu dizia "eu te amo, gatão" e você me respondia com "eu também me amo". E depois de um tempo, dizia que me amava também
- Quando você foi me levar no aeroporto e me enviou torpedo antes de eu entrar no avião pedindo pra Deus me abençoar e dizendo que me amava hoje mais que ontem e certamente menos que no dia seguinte
- Quando você foi me buscar no aeroporto e me acompanhou no aniversário da tia Monica caindo de sono, só porque queria ficar do meu lado (e disse no pé do meu ouvido que depois dessa viagem, não tinha mais dúvidas que me amava)
- Quando ficava passando os dedos pelo meu rosto e dizendo que eu era linda
- Aliás, todas as vezes que me mandou mensagem do nada dizendo "já disse hoje que vc é linda?"
- Os olhinhos que vc me enviava praticamente de hora em hora pra puxar assunto
- Quando veio da primeira vez na minha casa pra me visitar pq eu tava doente e tava sentindo a minha falta
- Quando veio me ver na Páscoa e trazer um ovo de chocolate pra mim, porque era a minha primeira Páscoa namorando e eu tinha que ter esse momento registrado pra vida.
- A mesma coisa no dia dos namorados, quando comprou uma caneca do Star Wars cheia de bom bom pra mim
- Quando você cozinhou macarrão e levou pra mim no plantão

- Todas as vezes que vinha me buscar e me trazer em casa
- Quando ficávamos sentados na Plástica batendo papo e escondendo as mãos entrelaçadas porque ninguém podia ver
- O dia em que você se abriu comigo e chorou sentado no sofá da sala de oficiais da Oftalmo
- O dia em que você me deu as suas insígnias
- O dia em que você trocou as minhas platinas na minha formatura
- Todas as vezes que você me encontrava no estacionamento pra me desejar bom dia, me beijar e levar as minhas tralhas até o meu setor
- Todos os conselhos que você me dava sobre como sobreviver a bordo
- Quando me acompanhou no comando operativo e me ajudou a sair de dentro da favela quando eu me perdi


domingo, 24 de julho de 2016

O fim

Querido Felipe,

Hoje você terminou comigo. Faltando sete dias para que a gente completasse exatos seis meses de namoro, você decidiu pôr um ponto final nesse relacionamento que pra mim foi uma das melhores coisas que poderia ter acontecido comigo, se não a melhor.

Não vou te tirar a razão. Seus argumentos foram bem válidos, na verdade. Você será um ótimo advogado, não tenho dúvidas. Eu realmente sou egocêntrica.  Ouvi pessoas que náo devia ouvir e fiz coisas que náo deveria ter feito. Várias e várias vezes nesses quase seis meses eu dramatizei e me fiz de vítima. Não soube dosar as coisas, corria atrás de você quando devia te deixar ir e te deixava ir nos momentos em que devia lutar por você. E não se engane, a minha vontade hoje era de mais uma vez, lutar por você, sair da minha casa e ir voando para o seu quartel e te falar que você estava errado em terminar comigo. Mas não o fiz, por um motivo bem simples. Da última vez que nós quase terminamos, eu te pedi uma chance. Uma nova oportunidade para mudar tudo e abrir um espaço maior para você na minha vida, de certa forma, lutando para que meus pais te aceitassem e tudo se encaixasse. Mas eu falhei, não foi? Eu não soube aproveitar essa chance, por mais que os meus sentimentos sejam tão imensos e fortes por você. Eu aprendi que quando a gente falha, ou quando a gente erra, tem que pagar pelos erros. Ser punida. E a maior punição que você poderia me dar é a sua ausência na minha vida.

Eu queria muito ter sido aquela namorada que coloca mil fotos junto com o namorado nas redes sociais. Queria ter colocado que estava em um relacionamento sério com você, queria ter te levado na casa do meu avô, te mostrado pra minha família inteira e pra todos os meus amigos, mas eu não fiz nada disso. Já disse, eu não fiz essas coisas para te proteger, mas pode ter certeza que vontade não faltou. Eu me orgulho tanto de você! Da pessoa maravilhosa que você é, com um coração imenso, que cabe o mundo. Me orgulho da sua história, de como você saiu de longe e foi crescendo na sua carreira (e como vai continuar crescendo, tenho certeza).

Sabe, não posso ser hipócrita e dizer que eu mesma não cogitei terminar com você durante esse período. Algumas vezes, admito que as pessoas ao meu redor e algumas atitudes suas me fizeram pensar se você realmente seria "o cara" pra mim. Na época do seu aniversário, quando as coisas estavam realmente ruins entre a gente, eu cogitei abandonar o barco... Ou então quando você fazia um monte de grosserias comigo, pelo telefone ou pessoalmente, eu pensava "Gente, o que eu tô fazendo com esse cara!". Mas todas as vezes eu parava pra pensar e chegava à conclusão de que valia a pena continuar tentando. Você realmente é um investimento, mas não pelos motivos que o seu amigo te falou. Você é um homem de verdade. Tem caráter, boa índole, é batalhador. Você foi sincero comigo desde o início, foi meu ombro amigo quando eu precisei, meu parceiro de verdade. Mas como eu dizia, teve somente um momento que eu tava 99% decidida a terminar com você: No dia após a festa da Dnair. Não sei se você vai lembrar desse dia, eu passei o Sábado inteiro longe do whatsapp e quando você me perguntava o motivo, eu dizia que estava "em crise" e não queria falar o motivo. Inclusive, em um determinado momento, você disse que ficava triste que eu não confiasse em você para dizer o motivo, mas não era falta de confiança. Mas agora eu não tenho mais porque esconder. No dia do aniversário dela, houve um momento em que você segurou a bebê da Ana Paula enquanto eu fui ver os convidados dançando. Nenhum problema com relação a isso, mas quando eu voltei para o seu lado, você estava olhando para a criança como se ela fosse sua. E naquele momento, eu pude ver no seu olhar como aquilo era importante pra você, ter um filho. Você já tinha me falado isso várias vezes, mas quando a gente vê, cara a cara a situação, a gente percebe como as coisas realmente são. Você nasceu pra ser pai, amor. É daquelas coisas de vocação... Você deseja isso lá do fundo do seu ser, talvez até mais que ser oficial. E eu não consigo me imaginar sendo mãe. Nem hoje e nem daqui há vinte anos. Nesse dia em que eu fiquei sumida, eu chorei muito, por isso a minha cara estava tão inchada quando nos encontramos. Minha mãe entrou no quarto e me perguntou o que houve, e tudo o que eu conseguia dizer era "eu tenho que terminar com ele". Expus os motivos e ela mandou eu deixar de ser idiota, porque não eram bons motivos. Pois é, ela não me deixou desistir de você. Na verdade, eu nunca realmente quis desistir de você, mas é muito ruim quando você descobre que não vai ser capaz de fazer alguém feliz, principalmente quando esse alguém merece.

Você teve seus defeitos também, não vou falar que você foi perfeito. A sua teimosia era irritante. Você diz que eu era egocêntrica, mas você também foi várias vezes. Mais do que isso, você era orgulhoso. Parecia que estava em uma competição particular comigo, querendo mostrar independência, mostrar que era o mais forte da relação e que não precisava de mim pra nada. Muitas vezes eu me sentia em segundo plano pra você, principalmente quando o assunto envolvia as suas amigas, as suas ex, as alianças que você insistia em guardar... Eu me sentia uma idiota quando isso acontecia. Como se eu tivesse esperando o momento em que você ia ter um estalo e me deixar pra ficar com a dona da aliança ou ter o tal filho fora do casamento porque "pretendente não faltava". Eu me senti inferior muitas vezes. Mas ainda assim, suas qualidades eram muito maiores que tudo isso e eu sempre "fechava o olho" pra esses defeitos e tentava enxergar somente as suas qualidades.

Enfim, o que eu tenho pra te dizer é bem simples. Você vai realizar seus sonhos. Você vai sim terminar essa faculdade, ainda que muitas vezes você cogite largar tudo. Vai passar na prova de oficiais e ser um líder e um exemplo pra muita gente. Aquela mulher que a sua mãe pediu pra Deus que aparecesse na sua vida vai aparecer, vocês vão se casar e você vai realizar seu sonho de ter uma casa com aquela cozinha maravilhosa, um cachorro e um ou vários filhos. Deus sabe como eu queria ser essa mulher, mas você não me escolheu. E eu jamais poderia te dar um filho, você sabe disso. Confesso que sonhei algumas vezes em te ver com aquela farda azul linda me esperando no final do corredor da igreja, a gente se casando e sendo felizes pra sempre, mas não deu.

Desculpe por todas as vezes que eu fui chata, ciumenta, "filhinha de papai" e esnobe. Desculpe pelos momentos em que eu não te fiz feliz, não cuidei de você ou não soube te compreender. Desculpe se em algum momento eu fui preconceituosa com relação ao lugar de onde você veio, em relação à sua carreira ou às coisas que você almeja. Desculpe por todas as vezes que eu te magoei, por todas as brigas, chiliques sem motivo ou pelas vezes que eu ousei duvidar de você ou das suas intenções com relação à mim ou ao seu passado.

Obrigada por tudo, do fundo do meu coração. Obrigada por ter me feito crescer um pouquinho. Por ter me feito sair do fundo do poço que eu estava quando você me conheceu e por ter acreditado em mim quando eu dizia que aquele cara do passado realmente tinha ficado no passado. Obrigada por ter me levado pra sair, pra conhecer lugares que eu sempre quis, mas nunca pude ir ou nunca tive coragem de ir. Obrigada pela companhia sempre gostosa, pelas dancinhas dentro do carro quando tocavam as músicas que a gente gostava e por todas as vezes que me mandou áudio cantando "eu sou uma cobra venenosa" e quase me matou de rir. Aliás, obrigada por me fazer rir constantemente e viver numa alegria que eu nunca imaginei ser possível viver. Obrigada por ter me levado de volta pra Igreja. Obrigada pela paciência com as minhas maluquices e com a minha família. Obrigada pelos almoços deliciosos, pelos jantares no plantão, por aqueles bolos de coco do sargento. Obrigada pela companhia na academia, por ter feito eu procurar o cara certo pra me treinar e por me incentivar sempre. Obrigada por todas as vezes que nós fomos para a sua casa, por todos os beijos e carinhos que só aquelas paredes testemunharam e que ficarão registrados na minha mente pra sempre, assim como os do carro. Obrigada por dizer que eu sou linda e por gostar de cada milímetro do meu corpo, exceto os pés porque eles são esquisitos, né?

Obrigada por aquela ligação no reveillón que quase me fez chorar, dizendo que estaria ao meu lado em todo o ano de 2016 e me ajudaria a passar na prova do corpo. Pelo visto, eu não vou ser a única a não cumprir uma promessa, né?

Eu li uma vez que durante a nossa existência, existe o amor da nossa vida e o homem da nossa vida. O amor é um cara platônico, que a gente acredita que é a última cereja do bolo e é completamente cega, achando que aquilo ali é a perfeição em forma de gente. E o homem da nossa vida é o cara que te ama - e que você ama também. Que te elogia, que cuida de você e que você, ainda que o ame desesperadamente, consegue enxergar todos os defeitos e ainda assim continuar lhe amando. Eu acho que você foi o homem da minha vida. Pena que eu não pude ser a mulher da sua.

Me que vai estudar, que vai se cuidar... Que não vai se enfiar em roubada e que não vai comprar uma moto. Que vai realizar os seus sonhos e, principalmente, me promete que vai ser feliz demais.

quarta-feira, 20 de julho de 2016

Pais e Filhos

A verdade é que aos poucos, eu fui vendo que eu também correspondia àquele amor. Não pensava que seria capaz de amar alguém depois do que eu sofri com Hans, mas milagrosamente, aos poucos, Felipe me conquistava. E me fazia imensamente feliz, de uma forma surpreendente. Mas nada é perfeito nessa vida, e a minha família não o aceitava.

Meus pais são cariocas, sempre foram pobres e sempre viveram no mesmo apartamento, no subúrbio do Rio. Não sei detalhes da história da vida adulta do meu pai, só sei que foi casado, teve dois filhos e a primeira esposa faleceu. Tinha problemas pessoais com a família da esposa e os filhos foram criados pelos avós maternos. Passado algum tempo, papai casou com a minha mãe, 17 anos mais nova que ele. Meus avós obviamente não gostavam do meu pai no início do relacionamento, mas com o passar do tempo, eles começaram a se entender e, apesar de às vezes trocarem farpas, se "aturavam" e se davam bem. Cinco anos depois do casamento, eu nasci. Só fui descobrir dos meus irmãos quando já tinha uns 9 ou 10 anos. Tivemos muito pouco contato, já que eles não gostavam da minha mãe. Eu também nunca os procurei, mesmo depois de adulta. Nunca senti muita falta de ter irmãos, pra falar a verdade.

Enfim, voltando ao foco do assunto, meus pais sempre sonharam que eu teria uma vida de princesa. Apesar da nossa condição financeira, eu sempre fui muito estudiosa e consegui passar com bolsa integral para os melhores colégios do Rio. Sempre fui a filha perfeita, que queria ser médica. Que só estudava o dia inteiro. Que não ia pra balada, não namorava, não saía... Que era o "exemplo" de tudo o que uma garota deveria ser. Ou seja, uma nerd chata. Nunca me incomodou esse rótulo, eu sempre gostei dessas coisas, de estudar, de viver cercada pelos livros, tecnologias e afins, mas a verdade é que eu não vivi. Eu não posso dizer jamais que eu "perdi" os melhores anos da minha vida estudando, porque seria extremamente injusto com todas as oportunidades que a vida me deu. Esses anos me transformaram em quem eu sou e me permitiram buscar uma vida melhor, não só pra mim, mas para os meus pais.

Sabe, é difícil demais você crescer sendo uma adolescente pobre no meio de um monte de alunos riquinhos, que contam sobre as suas viagens pra Disney nas férias, enquanto você passou as suas férias com a cara enterrada em um livro de inglês, tentando adiantar o curso. Pior ainda é ver seu pai desempregado e sua mãe tendo que caminhar quilômetros pra poder economizar na passagem de ônibus pra te buscar na escola. Eu usei camisa de escola pública e carteirinha de estudante falsificada pra poder economizar na condução. Eu vi minha mãe chorando escondida porque não tinha comida suficiente para três. Como meu pai era mais velho, arrumar emprego era dificílimo, logo, tudo recaiu sobre a minha mãe e ela teve que arrumar um emprego como doméstica para ajudar com as despesas de casa, enquanto meu pai fazia diversos bicos.

Não foi fácil. Eles fizeram muitos sacrifícios para que eu pudesse me sair bem na vida, assim como eu também sacrifiquei a minha adolescência para conseguir estar entre os melhores e lograr êxito nos meus objetivos. Mas como eu disse, nessa correria toda, eu não tive tempo de viver.

Eu não namorei. Eu não fui à festas, à baladas. Eu não beijei ninguém escondida atrás da escola. Na verdade, nem na faculdade. Eu só comecei a viver, a partir do momento que o Felipe entrou na minha vida. E talvez seja por isso que é tão difícil abrir mão dele, ainda que os meus pais me pressionem o tempo todo para fazê-lo.

Eu acredito que eles não gostam de Felipe por diversos motivos. Ele é grosseiro, às vezes. É teimoso, orgulhoso, às vezes se acha o dono da verdade. Inclusive muitas vezes ele fala umas verdades que incomodam visivelmente os meus pais, já que são críticas à minha criação de "filhinha de papai". Ele estuda porque tem que estudar, mas não é nerd que nem eu. As vezes chega a ser preguiçoso. Mas ele não é só isso... E o grande problema é que os meus pais não vêem o "além", não enxergam o que eu enxergo. O cara doce, que abre mão de tudo pra estar comigo, que tenta me proteger das coisas... Que se preocupa comigo e que me ama. Muito. E só quer o meu bem.

E eu sei que os meus pais também têm todas essas características do Felipe, eles também querem o meu bem acima de tudo, mas eu não sei até que ponto essa implicância com ele tem fundamento ou se é apenas medo de deixar a garotinha deles seguir a vida, sair do casulo e crescer um pouquinho.

Isso me incomoda tanto... Tudo o que eu mais queria era que eles se dessem bem. Que fossem amigos, já que todos os três querem a minha felicidade. Eu já tentei de tudo... E quando eu achava que estava dando certo, tudo andou para trás.

Tem certas coisas na vida que estão ao nosso alcance, mas uma trégua entre meus pais e Felipe, acho que só com a intercessão divina mesmo... Para a minha tristeza.

domingo, 17 de julho de 2016

Passando o tempo/Pedido de ajuda

Até então, eu estava seguindo uma cronologia, mas preciso pular um pouquinho pra escrever sobre os últimos fatos. Quando as demais postagens chegarem até aqui, eu reposto essa passagem.

Eu cheguei num ponto no qual não sei bem o que fazer. Eu me sinto no meio de uma batalha, entre os meus pais e Felipe.

Eles reclamam de muitas coisas em relação a ele:

- Ele é um cara orgulhoso, não aceita ajuda de ninguém e parece querer mostrar pra mim a qualquer custo que é capaz de fazer as coisas, embora não precise fazer nada disso porque eu reconheço as qualidades dele. Muitas vezes, chega a ser petulante.

- Às vezes, ele é sem educação e grosseiro. E fala alto. Isso me incomoda bastante, na verdade. Sei lá, parece que a educação e o respeito que ele usa 24h por dia dentro do quartel desaparecem em algumas situações que nós vivemos.

- Ele não gosta de estudar. Eu acredito que ele até goste quando o assunto o agrada. Pra mim, lá no fundo, ele não gosta da faculdade que está cursando. Já falei várias vezes que ele devia explorar os outros talentos que ele tem, mas não me escuta.

Por outro lado, ele reclama dos meus pais:

- Eles agem como se fossem donos da minha vida. O próprio Felipe é vítima disso. Eles fazem uma baita pressão pra que a gente termine, porque na cabeça deles, eu tinha que arrumar um cara melhor (leia-se: alguém que já tivesse um curso superior ou que estivesse realmente estimulado pelo seu curso. Acredito que o fato dele ser pobre, negro e de outro estado também contribua bastante nesse "pacote").

- Eles ficam querendo satisfações da minha vida o tempo todo. A cada passo que eu dou, eu tenho que ligar ou avisar onde eu estou. Isso até determinado ponto é compreensível, já que eu moro na cidade mais perigosa do país. Mas também me restringe, pois, eles ficam cientes de TODOS os lugares que eu vou.

- Eles têm medo do passado dele. É aquilo, eu namoro um cara de outro estado, cuja família eu não conheço e que pode ter me contado uma penca de mentiras durante todo o tempo que estamos juntos. Eu confio nele, mas não posso exigir que meus pais confiem também.

E como se tudo isso não fosse o suficiente, ainda tem o pior problema, pelo menos pra mim: Ele quer filhos. Eu não quero.

Há cerca de duas semanas, fomos em um aniversário e uma amiga dele levou a filha recém nascida. Ele já tinha dito várias vezes que queria filhos e eu expressado a minha aversão ao fato tantas vezes mais. Mas nesse aniversário, eu pude ver nos olhos dele o quanto isso é importante pra ele. Ele pegou a menina nos braços e ficou por um tempo que pra mim equivaleram-se há horas olhando para aquela criança e babando por ela. E isso me dói muito, porque eu não vou poder dar isso pra ele. E quando chegar o momento, como vai ser? Eu vou negar um filho e ele vai em busca do sonho dele com outra mulher? Chorei muito no dia seguinte, à ponto do meu rosto ficar inchado o dia inteiro e ele até perceber. Não disse pra ele o motivo do choro, mas doeu ver aquela cena.

Outra coisa que têm me incomodado muito. Ele foi forçado a se mudar do apartamento no qual morava e voltar a morar no quartel onde está servindo agora (não estamos mais trabalhando juntos). Eu desde o início reclamei do apartamento que ele alugou quando decidiu deixar de morar no hospital, mas ele o escolheu, apesar de eu ter deixado claro que era num local perigoso. Mas o teimoso pôs na cabeça que era lá onde ele ia morar, porque era "exatamente o que ele queria e podia pagar". Conclusão: as coisas deram errado e ele teve que ir embora de lá às pressas. Depois que ele foi embora de lá, eu passei uma tarde procurando apartamentos pra ele morar próximos da faculdade dele, com preços bons e em lugares bacanas, mas ele não quis nem ouvir. Colocou na cabeça que ia morar há 85km do quartel, numa cidade que ele gosta e ponto final. Isso me dá medo. Como vai ser o meu futuro com uma pessoa que se nega a me ouvir? Que toma as decisões e, quando dá errado, coloca a culpa em mim, como ele o fez essa semana? Disse que ele alugou o apartamento antigo somente porque era perto de onde eu morava, sendo que na época, não foi essa a justificativa que ele deu.

Ontem saímos e decidimos sentar no calçadão da praia para vermos o mar. Encostei a cabeça dele no meu peito e comecei a chorar copiosamente. Ele perguntou o motivo e eu disse que é porque sinto falta dele durante a semana, quando ele está no quartel. E é verdade, mas esse não era o único motivo pelo qual eu estava chorando. Chorava também porque eu tô numa espécie de luta dentro de mim, entre ouvir a razão ou o coração. Não sei até que ponto vou conseguir ter paciência e lidar com os defeitos dele. Isso sem contar que a opinião dos meus pais vale muito pra mim. Mas eu o amo. Não do jeito platônico como amava Hans, mas eu o amo sim, de verdade. E se eu tomar a decisão errada, isso vai afetar a minha vida pra sempre. Eu posso escolher continuar e me arrepender amargamente no futuro, com um marido grosseiro. Ou posso terminar hoje, e descobrir daqui há alguns anos que eu perdi um amor verdadeiro. Porque eu realmente acho que ele me ama de verdade.

Eu tô angustiada, realmente não sei como proceder. Só queria que Deus me ajudasse e me mandasse uma luz. Sei que não sou merecedora e que ultimamente eu tenho sido uma péssima cristã, mas ainda assim, se Ele pudesse me enviar um sinal, eu ficaria extremamente grata.

Sendo "a namorada"

Saímos outras vezes mais e a cada dia víamos que éramos extremamente compatíveis. Ele me fazia feliz demais. Eu estava sempre sorridente quando estava ao seu lado. E a recíproca parecia ser verdadeira. Acho que mais difícil que acreditar que eu tinha um namorado, só crer que alguém podia realmente gostar de mim e ser feliz ao meu lado. Isso era surreal!

Eu sempre fui super insegura com relação à mim, à minha personalidade... Achava que seria impossível alguém gostar do meu jeito nada delicado, dos meus gostos estranhos e principalmente, do meu aspecto físico. Eu sempre me achei sem graça. Óculos grandes, dentes tortos, nariz de batata... Gordinha, com quadris e coxas demasiadamente grandes para o meu gosto... Enrolada e completamente desajeitada, aquele tipo de pessoa que ri de tudo, parece bobo alegre. E surpreendentemente, ele gostava desse "combo do terror". Ele sempre dizia que me achava linda, que meu corpo era exatamente o que ele gostava (exceto os meus pés).

E finalmente, num dia 31 de Janeiro, ele me pediu em namoro no estacionamento do hospital onde trabalhávamos, após me levar para almoçar no aniversário do pai da melhor amiga dele. Acho que esse foi um dos melhores momentos que passamos juntos. Daqueles dias perfeitos, que a gente registra na memória e não quer esquecer jamais.

Felipe me proporcionou diversos momentos inesquecíveis, na verdade. Um mais bonito e singelo que o outro. E talvez, em todo o nosso relacionamento, o melhor tenha sido o dia 24 de Março. Era uma quinta feira, véspera de feriado, e ia acontecer um show comemorativo do aniversário de uma rádio que nós sempre escutávamos. Eu estava super ansiosa por esse show, porque algumas das melhores bandas de rock do país tocariam. Comprei os nossos ingressos e partimos para o show. Dançamos, cantamos e quando estávamos no auge da diversão, ele me puxou pra um abraço, segurou as minhas mãos em seu peito e, olhando nos meus olhos, disse que me amava. Foi como se tudo parasse ao meu redor e tudo o que eu fiz, foi ficar olhando nos olhos dele e pensando "Eu ouvi mesmo isso?". Um homem dizendo que me amava. A minha reação foi me enfiar no peito dele e ficar ali, quietinha. Tempos depois ele me disse que ficou um tanto quanto apavorado, pensando que tinha se precipitado e que me assustou. Realmente, ele me assustou. Primeiro pela surpresa em si de um homem dizer que me ama. E segundo, porque tudo era muito recente. Estávamos juntos há dois meses e meio, mais ou menos. Eu estava na fase "da curtição" do namoro e, naquela altura, um "eu te amo" era carregado de responsabilidade.

Mais uma vez, a minha cabeça começava a borbulhar milhares de pensamentos e, como ele costumava dizer, eu começava a pirar.

terça-feira, 14 de junho de 2016

Como eu conheci Felipe - parte 2

Continuando a minha história, Felipe e eu mantivemos contato praticamente diário. A vontade de vê-lo aumentava exponencialmente, assim como a falta que ele me fazia a cada dia que não nos encontrávamos. Em uma dessas oportunidades, na qual ele foi até a Ortopedia me procurar para jogarmos conversa fora, pedi seu telefone, pois o final do ano se aproximava e eu queria mandar uma mensagem para ele no reveillón. Ele ficou surpreso com a minha iniciativa, como disse posteriormente, mas ainda assim, me deu seu número e ainda naquele dia, começamos a conversar via whatsapp. Nos falávamos o tempo todo, sempre sobre assuntos triviais.

No meu último plantão de 2015, nas vésperas das festas de Ano Novo, eis que Felipe me envia uma mensagem dizendo que havia comprado um bolo e que queria levar uma fatia para mim. Achei extremamente estranho aquela vontade dele, mas ainda assim, combinamos um horário para ele passar no meu setor e me entregar o tal bolo. Ele me enviou uma mensagem para avisar que estava a caminho e eu respondi que ele teria que me esperar um pouco, pois precisava tomar um remédio e, estranhamente, não havia água no meu setor.

Cerca de dois minutos após essa mensagem, surge Felipe, o bolo e um copo de água.

Ficamos longos minutos batendo papo naquele dia. Me sentia tão bem, que praticamente não pensava no dito cujo enquanto me divertia ao lado de Felipe. Só que naquele dia, veio a bomba. Ele decidiu me mostrar uma foto que levava no celular, na qual aparecia a sua esposa e uma sobrinha. Naquele momento, fiquei sem chão. Uma mistura de vergonha, com raiva e perplexidade invadiram o meu ser. Mais uma vez eu me interessava por um homem que já tinha alguém e, lá no fundo, eu acreditava piamente que ele realmente estava interessado em mim, afinal, quem levaria bolo pro plantão para dividir com uma pessoa aleatória que conhecia a tão pouco tempo? Quem mandaria mensagens várias vezes ao dia para alguém que era uma simples colega de trabalho? Fiquei decepcionada, dava pra ver nos meus olhos. Ele não deu detalhes sobre a esposa, só disse que ela morava em outra cidade. E dentro de mim, um buraco se abria. Ao final desse lanche, quando nos despedimos, ele me puxou para um longo abraço, no qual eu me enterrei em seu peito, naquela farda que eu tanto gostava e pedia, dentro de mim, pra que aquele abraço durasse pra sempre, tão bom que era. Mas sabia que não podia gostar daquela situação, já que ele pertencia à outra mulher.

Poucos dias depois, ele me ligou no dia 31 de Dezembro para me desejar um feliz ano novo. Lembro que estava na casa do meu avô e, ao ver seu número da tela do celular, meu coração disparou. Me encaminhei para o quintal, onde não poderiam ouvir minha conversa e fiquei alguns minutos escutando aquela voz que eu tanto gostava pelo telefone, dizendo que queria que fosse um ano maravilhoso pra mim, sem as lágrimas que eram tão comuns em 2015... Ele ainda fez questão de frisar que ficaria ao meu lado para me ajudar a passar na prova para o quadro de médicos (sou oficial temporária), já que esse é o meu maior sonho. E que eu podia contar com ele para o que precisasse nesse ano de 2016. Posso dizer que ele cumpriu com cada uma dessas promessas e que casa desejo dele pra mim, foi, aos poucos, se realizando ao longo desse ano.

Nos dias que seguiram, continuamos nos esbarrando pelos corredores do hospital. Combinávamos de jantar nos dias de plantão e foi em uma dessas oportunidades, que ficou claro que o sentimento não partia somente do meu lado. Um certo dia, após jantarmos, ficamos assistindo televisão e ele pôs o braço por trás de mim, na altura nos ombros e ficou fazendo carinho no meu ombro direito. Eu não aguentei e encostei minha cabeça no seu ombro e ficamos ali por alguns minutos. Na hora da despedida, rolou aquele clima e quase nos beijamos. Não o fizemos por minha culpa. Como eu poderia beijar um homem que era casado? Aliás, esse pensamento era constante na minha mente. Não podia cometer esse erro novamente, não poderia me relacionar com um homem que já tinha dona. Mesmo a vontade de beijá-lo sendo quase incontrolável, não o fizemos. Nos abraçamos e nos despedimos.

Mais uma vez, ele insistia que saíssemos para ver um filme. Apesar de saber que estava errando em sair com um homem casado, aceitei. Tinha algo nele que era quase irresistível. Seria aquele sorriso lindo que me fazia esquecer dos problemas? Enfim, no dia 09 de Janeiro de 2016, cedi e fomos ao cinema. Lá, enquanto assistíamos Vai que dá certo 2, aconteceu o nosso primeiro beijo. E a partir desse dia, não paramos mais de nos beijar. Eu não queria continuar, pra mim esse primeiro beijo deveria ter sido o último. Fiquei encabulada por todo o filme, evitando contatos maiores com ele. Até quando saímos do cinema, ele queria andar de mãos dadas comigo e me beijar nas escadas rolantes e eu sempre o evitava, até que em um determinado momento, quase que lendo os meus pensamentos, ele segurou as minhas mãos e disse que eu podia ficar tranquila, pois havia terminado o casamento e estava livre para ficar comigo.

O resto eu conto depois... :)